12.06.2005

Frank Zappa em São Bernardo do Campo

Ao lado de Maurílio Comino, na Rua 23 de maio, Jardim Antares, São Bernardo, vemos Gustavo Pena com uma expressão que lembrará certamente Frank Zappa.

Não está longe da verdade dizer-se que Frank Zappa aterrisou em São Bernardo por essa época. De fato, tudo cabe num tamanho único: desde a descrição pormenorizada do roteiro de San Berdino (She lives in mojave in a winnebago. His name is bobby, he looks like a potato...) até as paragens algo-serialistas de The perfect stranger...

Nunca mais deixei de apreciar certas circunstâncias zappianamente. Acho que nem minha mãe. As caixas acústicas da Rua Jurubatuba berravam para desespero de Dona Amélia: my guitar wants to kill your mama...

Bernaux cité, suas ruas enregeladas, suas esquinas sujas e malvadas, transitávamos pelos seus cafés, vitrines, visitávamos o Bar das Putas no final da noite para uma cerveja. Jam sessions impregnadas de cannabis e sonhos. Ciça, Amauri, Dito, Joãozinho little. Tribo maltês. Quanta coisa cabe no tamanho único de nosso inconsciente!

Certa vez, descendo a Marechal Deodoro, ao lado do falecido Cine Anchieta, postamo-nos à porta de uma loja de artigos femininos como se fôssemos manequins. Estátuas minimalistas, na verdade. Expostos ao olhar curioso de transeuntes assustados, com gestos minúsculos reportávamos uma percepção transcedental, interpessoal, intertemporal. Erámos seres alienígenas!

Andávamos com chapeús na garoa, relógios-despertadores no bolso da gabardine cinquentona e flores na lapela. Uma geração flower-power assíncrona. A nossa leitura do fenômeno cultural que avassalava a juventude era não-linear. Percebíamos claramente a intertextualidade que permeava o som e a letra do rock que afinal compunha a nossa trilha sonora e pautava um comportamente de laxismo formal, apontando para um reencontro com o sentido mais singelo da vida.

Não à toa convergíamos em núcleos de convivência. Um capítulo à parte seria "A família", no site da Dona Laura. Fica para depois!