2.24.2006

los duraznos gritan: te quiero!!


1984, data em que George Orwell definiu os limites de sua loucura, ano da morte de Indhira Ghandi, do lançamento de Footloose 3, dos Caçadores de Fantasmas, aventuras de Tarzan e Indi Jones, Karatê Kid, ano em que nossos ouvidos foram entupidos com a nova onda do Yes (Owner of a Lonely Heart), a energia despirocada de Van Halen com Jump, e - claro! - a indefectível Cindy Lauper dominando as FM´s dos carros perdidos no tráfego desumano desta Paulicéia. Enfim, ano em que completava 28 anos bem vividos.

Mas algo havia que seqüestrava o coração do paulistano perdido sob os céus de metalurgia: os duraznos clamavam pelo Tio Americano! "Te quiero, te quiero!!". Ah! as vozes aveludadas ainda me chegam como ecos perdidos no espaço sideral. The residual echoes...the residual echoes The residual echoes from the giant explosion (Where they said it beginned)...

"A resposta é meu canto" - a palavra publicitada no coração do menino de Deus é um recado direto. Simplesmente adoro a frase. Sempre considerei esta flâmula a representação de um sentimento paradoxal de que a resposta estava, sempre esteve, no meu canto, no meu sítio, que é individual, particular, singular e único... e no entanto, um canto que é também a expressão musical de um sentimento coletivo.

Gustavo Príncipe considerava-se vocacionado, percebia um chamamento divino, sentia-se "mordido pelo talento". A música era a maneira como ele se singularizava, se é que me entendem. Dessa maneira se aproximava de Deus. Repartia o sagrado que furtava, como um trágico Prometeu, da mesa celestial.

2.21.2006

una perla y un diamante también


Uma jóia preciosa - sempre considerei o Gustavo uma verdadeira jóia preciosa, uma pérola! Reunia em si tantas e tamanhas qualidades, tanto valor, era de fato uma pessoa luminosa.

Manipulando as imagens que ainda guardo em meus arquivos (não se esqueçam: sou um registrador!) vejo o quanto seus gestos eram delicados, suaves. Diria até que eram gestos femininos. Tinha o costume de expressar os fraseados musicais mais complexos com o movimento gracioso de suas mãos. Posso lhes dizer que quase "enxergava" a música, com suas assombrosas e misteriosas arquiteturas.

Mas Gustavo era um homem veemente também. Apaixonado. Às vezes era duro, empedernido, mas o seu gênio não permitia que fosse menos que um diamante. Um lindo diamante!

Gonna leave this town...

Gus, naquela noite de 11 de setembro de 2002, com sua harmônica cromática, arrebenta um lamento plangente de um blues.

Ah! meu querido príncipe, quantos trens passaram em nossa estação? Naquelas noites eternas de Montevidéu, ouvia "hear my train A coming" escondido embaixo da mesa, fugindo do olhar que furtava a alma. Lembra-se? Sua irmã não havia gostado... Acho que hoje compreenderia.

Engraçado... a propósito dessa imagem me vem certa passagem triste da minha infância. Dizia D. Amélia que eu era uma criança arredia. Quando chegava alguma visita, dizia ela, "o menino escorregava para a parte de baixo da mesa" e ficava ali à espreita, em silêncio nada amigável. Alguém terá assacado o epíteto bicho do mato para qualificar o menino inconsolável. E o apodo plastificou-se em mim. Estar abaixo da mesa é desvertir-se da própria humanidade.

Mas o recanto junto ao solo nos dava uma perspectiva excelente. Víamos as pessoas como elas realmente eram. Era um olhar destravado de preconceitos e sombranceria. Convenhamos, há algo mais soberbo do que o olhar do outro desferido por cima?

Os olhares trocados, os sons trocados, bem tocados, as palavras justas ("lá, onde somos um exato acorde") tudo isso, como numa oração perene, haverá de repercutir eternamente.